Teletrabalho – o primeiro milho é dos pardais?

2022-01-26 21:38:00

Humberto Ferreira

Owner, Pragmasoft



Todos os gestores na última década se começaram a guiar pelo lema que as empresas não são feitas de pessoas, mas sim que as empresas são as pessoas.

Uma empresa é um ‘ser vivo’, que deve ver os seus colaboradores como o seu maior ativo e deve proporcionar as condições de trabalho, ambiente, evolução, para que a empresa evolua juntamente com os seus colaboradores.

Vimos empresas a criar zonas de lazer, com jogos e escorregas. Vimos empresas a dar pequenos almoços, fruta, algumas com chefs profissionais. Vimos empresas a dar dias de folga, e presentes de boas vindas cada vez melhores.

A empresa mais sexy era a que atraia os recursos.

Mas depois veio a pandemia.

Os colaboradores viram que podem trabalhar para o Mundo inteiro de suas casas. Viram que podem ganhar mais com menos custos. Viram que podem potenciar o seu trabalho se calhar a trabalhar para mais do que uma empresa.

E as empresas adaptaram-se.

Mas se na última década o foco foi nas pessoas, o que se passará agora com a mudança do paradigma do escritório cool e sexy, com o foco nas pessoas, para o teletrabalho mais frio e mais distante?

O que prevejo é que o espírito empresarial, criado pelas relações interpessoais, se vá perdendo. E as empresas vão-se adaptar. Neste momento o mercado em algumas áreas está ‘caótico’. A taxa de rotatividade é elevada, as multinacionais veem o potencial de contratar à distância com menos custos, e o mercado está-se a ajustar a este novo paradigma de trabalho.

Mas, e o futuro? E quando as empresas começarem a ver os recursos não como pessoas, mas como um número, como uma «fábrica» de objetivos? Em que não importa se é o Manuel ou Maria, mas o que importa é o objetivo e o custo? Nessa altura, teremos o foco completamente fora das pessoas, de volta ao frio e cruel mundo dos números, e aí, as pessoas que agora se regozijam por uma flexibilidade de teletrabalho, poderão ver-se confrontadas com contratos a curto prazo, à tarefa, ao objetivo, porque não importa se é o Manuel ou a Maria do outro lado do computador, já não é com eles que vamos tomar café, importa quem faz melhor, mais rápido, mais barato.